terça-feira, 2 de agosto de 2016

Contos da vida real



O Vladimir é um morador de rua, que escolheu morar na rua. Tem 47 anos. É nordestino, de um sotaque carregadíssimo. As filhas são advogadas e moram na Alemanha. A mulher morreu. Ele veio de Natal, já foi surfista e queria encontrar uma pérola dentro de uma ostra. Diz que vale mais que qualquer ouro ou prata. Um amigo encontrou e ficou milionário, comprou até uma Picape. "Não sei se foi o desgosto ou o destino que me fez ficar assim... mas a vida é bela", foi a primeira coisa que o Vladimir falou (depois de perguntar se a gente podia dar alguma coisa com álcool pra ele), e eu pensei nisso o dia todo. Na verdade, continuo pensando até agora. Ele agradecia tanto por temos ouvido ele conversar que eu não sabia como explicar que poderia me sentar e ouvir ele falar o dia inteiro. De fato, foi o que fiz pelo resto do dia. Eu disse pro Vladimir que ele foi o meu presente de aniversário. E ele me respondeu que fui o amor da vida dele. Efêmero. O mundo inteiro é um palco de desencontros, não é mérito brasiliense. Mas vale o encontro. Sempre vale. Valeu, Vladimir!

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