sábado, 27 de fevereiro de 2016

Olha elas!


A gente vê e julga, pensa e escolhe. Nessa subida, meu bem, você foi escolhida. Você que acha que pode fazer tudo o que quer. E pode. Mas não pode escolher o que querer. Sempre nessa caça desassossegada do que nem você mesma sabe se existe. Mas busca, tenta, pede, insiste. Bate o pé e grita. Irrita. Acha que pode proteger o mundo com uma conversa. Só que ninguém escuta. Normal. Alguém já te escutou? Tenta convencer de que pode tomar mais um gole, tenta convencer de que tudo bem, tá bem, não precisa dormir agora. Abafa os gritos do coração e exterioriza os berros pra fora. A qualquer hora. E aponta o dedo, sem segredo. Joga as máscaras no chão. Quebra regras, copos e recordes de votação. Se gaba do que tem, sem perceber que está falando do que não tem. A busca é pelo que te falta. Todas as coisas que prefere esconder pra não mostrar fragilidade. Já passou da idade. É oito ou é oitenta. Mas tenta. Mesmo que chorando diga que nunca chora. E vá chorar mais do lado de fora. Desde quando as lágrimas são doces? Desde quando o medo é doce? Não se foge pela borda. Não sei se te contaram, mas goiabada engorda! Você que escancara o que os outros calam. E grita suas verdades alto demais. Pra fixar. Pra ecoar. Não é banal. Mais escandalosa ainda é a dor que não sai no jornal. E eu entendo; Não precisa buscar cura por ser assim. De verdade, do começo ao fim. Ana e Paula, o mundo não entende o pecado, mas compreendeu o pecador. Vocês estão absolvidas. Que a vida lhes seja cheia de amor!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sweet child o mine.

Sempre pensei em você criança. Na garotinha levada que corria pelo assoalho da casa fazendo barulho com as botinas desamarradas. Penso tanto que chego a ter as lembranças muito vivas na mente. Como se eu realmente tivesse estado lá, o tempo todo. Ás vezes, na platéia, como um alguém desconhecido, na mesa do restaurante que você jantava com seus pais no aniversário de algum deles. Parece estranho, mas é como se eu pudesse me lembrar milimetricamente do seu sorriso de janelinhas por baixo da franja torta que quase cobria os seus olhinhos tão cheios de brilho, feito estrelas cadentes, ao ver a sobremesa chegar. Outras vezes, é como se eu tivesse sido, sei lá, a neta mais velha de uma amiga da sua avó. Te embalando em um desses balanços feitos de pneu, rápido o suficiente para ouvir a sua risada diante do frio na barriga pelo impulso do movimento, mas ao mesmo tempo, devagar, de forma com que você jamais pudesse cair ou ralar os joelhos. Queria tanto de fato poder ter estado lá. E ter visto a inocência que o seu olhar ainda tem, com olhos de menina, também. Acho que, mesmo depois de mais velha, você nunca deixou de ser a garotinha que precisava ser cuidada. Sei que não. Me pergunto se você começou a vida tão jovem que não consiga crescer. E sinto muito medo por você. Muito medo pelas suas dores. Muito medo pelas suas quedas. As vezes queria me livrar disso. Mas aí acho que te perderia dentro de mim; e fico com mais medo ainda. Acho que existem pessoas que realmente amadurecem. E te vejo chegando onde sempre quis chegar. Talvez, um dia, quando eu crescer e me encontrar, perceba que você também se encontrou e permita que cresça, que o seu encanto permaneça. Penso nisso e o tempo parece voar, corre ligeiro como numa ampulheta. Mas de repente eu viro criança de novo, e isso é tudo o que somos, crianças esquecidas em algum lugar. 

Entretanto entre tanto.



Entre quem fomos e quem somos. Entre onde estamos e pra onde vamos. Entre eu e você; entre ser e parecer. Entre os medos e segredos. Entre os anos e os sonhos; entre os planos e desenganos. Entre o pranto e o encanto. Entre a dor e o amor. Entre a raiz e a flor. Entre a sua ousadia e a minha antipatia. Entre a nossa telepatia. Entre o desacordo e a sintonia. Entre razão, perdão e coração. Entre quem vem, quem sai, quem chega e você que nunca vai. Entre os laços e abraços. Entre o tempo, no passado, no futuro e no presente. Entre a gente, entre a mente, entre a minha, entre a sua, entre o sol e a lua, quero morar na sua rua! Entre o caos e o cais, o muito pouco e o demais. Entre o antes e o depois. Entre a lembrança e a saudade. Entre os dias, as horas e a idade. Entre o que foi esquecido e o que nunca vai ser perdido. Entre o não e o sim, o começo e o fim, entre você pra mim.