quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sweet child o mine.

Sempre pensei em você criança. Na garotinha levada que corria pelo assoalho da casa fazendo barulho com as botinas desamarradas. Penso tanto que chego a ter as lembranças muito vivas na mente. Como se eu realmente tivesse estado lá, o tempo todo. Ás vezes, na platéia, como um alguém desconhecido, na mesa do restaurante que você jantava com seus pais no aniversário de algum deles. Parece estranho, mas é como se eu pudesse me lembrar milimetricamente do seu sorriso de janelinhas por baixo da franja torta que quase cobria os seus olhinhos tão cheios de brilho, feito estrelas cadentes, ao ver a sobremesa chegar. Outras vezes, é como se eu tivesse sido, sei lá, a neta mais velha de uma amiga da sua avó. Te embalando em um desses balanços feitos de pneu, rápido o suficiente para ouvir a sua risada diante do frio na barriga pelo impulso do movimento, mas ao mesmo tempo, devagar, de forma com que você jamais pudesse cair ou ralar os joelhos. Queria tanto de fato poder ter estado lá. E ter visto a inocência que o seu olhar ainda tem, com olhos de menina, também. Acho que, mesmo depois de mais velha, você nunca deixou de ser a garotinha que precisava ser cuidada. Sei que não. Me pergunto se você começou a vida tão jovem que não consiga crescer. E sinto muito medo por você. Muito medo pelas suas dores. Muito medo pelas suas quedas. As vezes queria me livrar disso. Mas aí acho que te perderia dentro de mim; e fico com mais medo ainda. Acho que existem pessoas que realmente amadurecem. E te vejo chegando onde sempre quis chegar. Talvez, um dia, quando eu crescer e me encontrar, perceba que você também se encontrou e permita que cresça, que o seu encanto permaneça. Penso nisso e o tempo parece voar, corre ligeiro como numa ampulheta. Mas de repente eu viro criança de novo, e isso é tudo o que somos, crianças esquecidas em algum lugar. 

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