sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cartas pra você; Parte II.

A primeira parte desse texto foi escrita há alguns anos atrás. Precisamente quatro. Se formos falar de números. Nunca houve a intenção de uma continuação. Mas por ironia do destino, ou algum descuido momentâneo, houve um plural no título que dizia: cartas. Na primeira vez, eu precisei escrever. Pra não enlouquecer. Lembro que não conseguia parar de chorar. Dessa vez, eu não consigo nem chorar. E isso dói muito mais. Pode acreditar. Hoje eu me lembrei do tempo em que eu queria ser exatamente como você. Bom, desse tempo, realmente já faz muito, muito tempo. Eu sempre repudiei que as coisas mudassem. "Tudo muda, meu bem, e também, qual é a graça se não mudar?" Odeio essa frase. Que em algum contexto do mundo, foi escrita pra você. Hoje, excepcionalmente, eu gostaria que ela fosse verdade. Porque nem tudo muda. Você por exemplo, não muda. E eu também não preciso nem mudar as palavras, só reescrevê-las. É isso. Só isso. Isso é você. E pra você não importa se dói ou não, muito menos em quem dói. Eu queria te salvar, mas você é o tipo de pessoa que não quer salvação. Olho pra frente, não vejo você. Olho pra frente, não vejo nada. Olho pra frente e só vejo o dia em que tudo mudou. O dia em que as peças do quebra-cabeça finalmente se encaixaram mostrando um sentido que eu nunca quis enxergar. Não vi, não ouvi. Não senti. Não sinto. Não sei. Não é. Não quero. Doeu demais. Dizem que o tempo cura tudo. Não curou. Não era justo. E não é. Achei que não suportaria que fosse. Suportei. Eu tenho mesmo dessas, de achar que as coisas vão me matar. Não matam. Mas elas também não passam. "Faço tudo por você". Talvez esse seja o tudo. Eu faço. Eu fiz. Mas não é suficiente. O tudo ainda é muito pouco pra você. Nunca basta. Alguém disse "não quero nada, eu tenho tudo", há muito mais que quatro anos. E não fui eu. Mas, talvez, você não tenha percebido que não se pode ter tudo. E que você, não tem nada. A primeira parte dessa carta, usa um clichê que diz que eu soltei o mundo, pra segurar a sua mão. A segunda, não usa clichês, mas te diz, agora, que eu te soltei. Pra enxergar um pouco o mundo. Te ver como eu sempre te via, iria, me cegar. Não dá pra não soltar quem nunca quis se ajudar. A melhor lembrança, que me veio a mente agora, foi a sua. Me pedindo pra não dizer mais que eu era igual a você. Sabe? Eu não quero mesmo ser. Leio as coisas que dizem as pessoas que não sabem como você é. E não sei, se eu queria ser como elas. Todas tão iguais. Ou te amar a mais. Como eu amo. Só que hoje, não vai dar pra falar de amor. Fica pra outro dia. Não é mais o significado do seu nome. Na verdade, sabemos que nunca foi. Eu só criei possibilidades imaginárias de ser. De tanto querer. Essas coisas nunca foram sua culpa. Pelo menos essas, não. Sempre foram minhas. Conhecer. Verbo. Transitivo direto. 1. Perceber e incorporar à memória (algo); ficar sabendo. 2. Tomar ou ter consciência de. Estou cheia de doses de você. Desculpa. Por esquecer. Que eu te conheço.