quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Tempestade particular.

Sempre que as pessoas ficavam tristes eu dizia pra elas respirarem fundo, contarem até dez e sei lá, pensarem em alguma coisa bonita. Mas eu respiro fundo, puxo todo o ar que existe, conto até mil, não consigo pensar em nada bonito, não consigo enxergar nada de bom, só tenho vontade de me deitar, dormir, dormir e dormir. Sento e espero passar, mas não passa, choro pra aliviar mas não alivia. Tem dias que preciso me maquiar três, quatro vezes seguidas, por que não tenho mais o menor controle sobre mim e me encharco sem mais nem menos, borrando a maquiagem inteira. Sempre me atraso por ter que refazê-la. Eu olho pro relógio, vejo o tempo voar e sei que tenho que parar e seguir com a minha vida e fazer as minhas coisas, sussurro pra mim mesma, "para... por favor, para, você tem que parar", e olho pro alto e peço - por favor - por favor - por favor - engulo em seco, respiro de novo, assopro o ar, olho pras minhas mãos e mexo os dedos, arregalo os olhos, preciso me enxergar, preciso me sentir viva, preciso saber quem eu sou de novo, preciso me comandar, embora tudo seja em vão. Sento e choro mais uma vez, deito, cubro o rosto com a coberta, penso, penso, penso, enlouqueço, crio mil hipóteses, reflito sobre a possibilidade de estar verdadeiramente doente porque não acho mesmo que isso possa ser normal, tento entender... mas não consigo, me afundo no travesseiro, respiro e realmente acho que preciso me lembrar de respirar constantemente porque é como se meu cérebro não soubesse mais que é necessário fazer isso. Aí levanto, me olho no espelho mais uma vez, engulo em seco, penso "quem é você?", tento ver meu reflexo interior e me questiono sobre o que que ta acontecendo. Fecho os olhos, espero o nó da minha garganta se desfazer... Mas ele não se desfaz, ele está lá a tanto tempo que eu já deveria ter me acostumado. Em todos os lugares as pessoas falam tantas coisas o tempo todo, e é como se eu estivesse assistindo de longe, porque não consigo ouvir o que elas dizem. Ás vezes, nas ruas, nos ônibus, na sala de estar de um alguém qualquer, eu só quero correr pra casa... e chorar. Mas a gente não pode fugir das coisas só pelo fato de serem dolorosas ou incômodas. Eu sei que nada se resolve assim, mas não consigo resolver nada de nenhum jeito. Tem vezes que eu olho pro céu e pisco repetidamente, nunca gostei de pedir nada pra Deus por achar que ele já tem coisas demais pra cuidar e que se a gente pedir muito, não vai ter como realizar tudo, então aprendi a ser seletiva... Mas ultimamente seco os olhos, respiro pela milésima vez, olho pra cima e peço: "por favor". Tento imaginar se todas as vezes que as pessoas ficam tristes se sentem assim, ou se alguém se quer já sentiu alguma coisa assim na vida. Mas embora o temporal não passe, tem horas que diminui, que acalma e vira chuvisco, ou ao menos chuva sem tantos raios e trovões, e aí eu me sinto tão boba pelas coisas que penso, tento me lembrar da fome da África, dos atentados terroristas, acidentes lendários, guerras, chacinas, tragédias mundiais, das crianças com câncer que lutam diariamente sendo fortes em hospitais, e sinto a necessidade de alguém pra me sacudir e falar que isso aqui não é sofrimento e gritar comigo um "EI ACORDA PRO MUNDO REAL, PRO QUE VOCÊ TA FAZENDO COM A SUA VIDA" só que sou egoísta o suficiente pra chegar a conclusão de que os grandes problemas de todas as outras pessoas não fazem os meus serem menores. E aí eu choro. Já pensei em alternativas tão covardes, em saídas que muitas vezes me parecem tão simples, mas depois eu condeno meu pensamento e novamente me sinto tão tola por esse desperdício todo de água do corpo. Queria não sentir nada. Ou bloquear tudo. Mas tudo o que sinto é que estou em pedaços. E simplesmente não sei o que fazer com tantos cacos.

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