quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ausência presente em mim.

Sabe quando a gente não consegue gritar num sonho ruim? Quando as pernas não conseguem correr, ou nessas cenas da TV em que as pessoas saem desenfreadas dentro de florestas escuras parecendo não ver os galhos e árvores emaranhadas pelo caminho, mas seguem tão desesperadamente em busca de algo que a gente do sofá de casa sente a aflição dali, aqui, por dentro? Eu senti assim, em mim. Olhando por todo lugar, falando com um tanto de gente que no fundo só tava compartilhando da mesma angústia que eu. E ninguém via, ninguém sabia. Sempre faço muita questão de ser racional, independente da circunstância. De sentar, respirar, esperar. Chorar é penúltimo caso, rezar última opção. Hoje eu chorei tanto que meu rosto formigou. Rezei de uma forma que minha cota com Deus provavelmente estourou. E é assim que eu, toda essa falsa personificação de coragem, num piscar de olhos me transformo em medo puro. Medo da cabeça aos pés, medo por mim, medo por você, medo pelo que foi e pelo que há de vir, medo de não ter saída, medo de não conseguir. E se você não voltasse? E as coisas que você ainda não tinha vivido? E os sonhos que ainda não tinha sonhado? Os sentimentos que não tinha sentido. Os sorrisos que não tinha sorrido. Até as lágrimas que não tinha chorado, já que o seu coração é flor, admirador da dor, defensor nato, do amor. E se você não voltasse? E a música do seu aniversário? Foi aí que... Flecha no peito, tiro certeiro. Completo desastre mental. As dúvidas viraram plural. E os filmes que a gente não viu? E os planos que a gente construiu? E eu? Quem que eu sou sem você? Eu quero saber? Pensei nas coisas que eu deixo de te falar, por orgulho, chatice ou mania de complicar. Lembrei dos abraços que eu não dei, da sua quase sempre inteligência e da minha constante falta de paciência... Um looping sem fim em câmera lenta martelando minha mente sem opção de pausa. E se você não voltasse?  Meu Deus, eu te liguei tantas vezes que a voz do outro lado da linha que repetia aquele velho "sua mensagem está sendo encaminhada para caixa de mensagem e estará sujeita a cobrança depois do sinal" me partia em mil e levava pra longe um pedaço de mim a cada nova chamada. Eu só conseguia imaginar como iria ser se daqui pra frente isso fosse tudo que eu poderia ouvir quando discasse seu número. Eu pensei no bom dia que eu não te dei, justo naquele dia e nos bons dias que eu não poderia mais dar. Pareceu que o tempo tinha congelado mas que os minutos nunca haviam corrido tão depressa antes. 22 horas. É claro que tinha que ser esse número. Tempo voa e quando vê, já foi. Vinte e duas horas e trinta minutos. Vinte duas e quarenta e cinco. Vinte duas e cinquenta e nove. Vinte e três. Vinte três horas e dez minutos. Vinte e três e trinta. Nada. Nada. Cada andar do ponteiro no relógio me encarava intimidador e dizia sem pena "ela não vai chegar. E se ela não voltar?" Eu acho que eu sempre encarei a vida desse jeito "tanto faz", porque no fundo acredito que não tenho mais nada a perder, então eis que, de repente eu levo uma rasteira da rotina, brincadeira de mal gosto essa do destino. E aí, cadê você? O que que eu sou se eu perder você? Não sei e espero nunca ter que descobrir. Conjunto infinito de minutos que se fizeram séculos. Até que: Onze e quarenta. "Oi, tô aqui". Olha aí, ela chegou. Tá tudo bem. Você voltou.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Te amo, menina.



"Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila."

(Maria Bethânia) 


domingo, 15 de março de 2015

Quase um segundo.

Eu queria ver no escuro do mundo
Aonde está o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver

(...)

Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo
Tudo que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas pra te libertar?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando.


Sorrindo e fazendo meu eu.

Talvez você nunca entenda. Ou quem sabe com o tempo compreenda. Mas segue. Te sustenta, por favor. E não olha pra trás, meu amor. Você já "desaprendeu a voltar", lembra? Nem importa a direção, só vai. Eu te ajudo a trilhar um caminho. Eu e mais um milhão. Ou então usa as suas asas. Voa! Faz assim, tira dái então... E deixa doer em mim. Eu juro que cabe no meu coração. É o meu livro preferido. Sei lá, meu mundo subentendido. Você é a história que mais me faz chorar. O amor que tive e vi, sem me deixar.

Todo dia.


terça-feira, 10 de março de 2015

Stronger.

Ás vezes quando você deitava no meu colo e eu podia ficar mexendo no seu cabelo molhado que pingava por todo lado, eu sentia que eu era capaz de ir tirando aquele seu embaraçado de problemas da cabeça, ou quando desenhava na ponta dos dedos as pintinhas das suas costas geladas e sentia que abrandava dali o peso do mundo que tanto te sufoca. E a gente não queria ficar longe nunca mais. Meu passado parou de sangrar pela primeira vez em tantos anos e finalmente eu vi, como eu, toda machucada, não perdi o jeito de amar e como a vida é grande quando estou ao lado de quem sabe que eu ando sempre com o coração escancarado. A vida é grande demais pro pouco quase nada que é tudo que eu era sem você. Porque me encontrei no seu bando de sorrisos desordenados. Nas suas histórias, cidades e impulsos. No tempo todo do seu jeito torto de falar olhando nos olhos sem desviar e gesticular rindo, exprimindo seus dizeres rápido, sem intervalos, quase que pra seguir o ritmo do peito, que no silêncio dava até pra ouvir bater. E como você ouve bem também, e parece guardar num ninho tudo aquilo que lhe é dito com carinho. Sempre me incomodou o seu desprezo pela sinceridade, toda essa sua falha cotidiana com a verdade, mas no fundo eu já sabia que uma pessoa tão bonita assim - de dentro e fora, fora e dentro - jamais poderia ser uma mentira. Tudo bem crescer e se esconder. Depois de tudo eu só consegui enxergar o quão forte você é. E eu sei disso, porque foi isso que tive que aprender a ser. E foi isso que você teve que aprender cedo demais. E é essa sua força que só você não vê, que lota qualquer lugar por onde você passe. Que acalma a alma de tanta gente e impulsiona a vida pra frente. Sua força que é a única capaz de salvar a minha mente. Sua força que provoca em tantos encanto e noutros emoção. Porque você é extremamente forte, da cabeça ao coração.

Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei.

"Ela fazia muitos planos. Eu só queria estar ali, sempre ao lado dela. Eu não tinha aonde ir (...) Ela também estava perdida. E por isso se agarrava a mim também. Eu me agarrava a ela porque eu não tinha mais ninguém."

A gente é assim, o tom exato de uma gargalhada sem fim. No meio de um choro abafado no nosso abraço apertado. Segredos cuspidos em meus ouvidos sempre tão abertos a tudo que você tem pra dizer. Descartando coincidências e sem roteiro algum, esquecendo as consequências. É que a gente chove o tempo todo, mas sabe como ninguém, fingir que faz sol também. Nem sempre eu sei de imediato te dar as respostas que as suas perguntas pedem, mas pensando, eu descobri e me questionando, eu encontrei. "O que você acha que a gente é?" Eu acho que a gente é amor. E quando é, não dá mais pra deixar de ser.
a tempestade que chega é da cor dos teus olhos. azuis.