quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Por que?

Porque ás vezes eu também preciso falar de mim. Porque sei consideravelmente muito sobre gramática mas sempre fico em dúvida sobre o acento certo que se usa nesse as. Porque passo meses sem chorar, literalmente, me esqueço até de como se faz isso e depois choro por horas, sem nem saber o motivo. Porque eu sou feita de uma saudade absurda de quem não pode voltar nunca mais. Porque eu sempre digo talvez mesmo que eu tenha certeza e isso irrita. Porque eu sou alguém que perde a calma mas não consegue a mostrar perdida e corre pra longe do mundo sem que ninguém entenda. Porque o meu egoísmo é basicamente a maior coisa sobre mim e não consigo melhorar. Porque me dizem que eu sou de leão e isso explica. Porque metade do mundo me acha incrível demais, enquanto até o meu ego (que nunca foi dos menores) tem plena consciência da minha definitiva e inegável trivialidade. Porque eu odeio conflitos, e sim, fujo deles. Porque as palavras dos outros me machucam, mesmo se elas forem boas. Porque eu já tive razões demais para simplesmente não acreditar. Porque eu simplesmente não acredito. Porque as minhas palavras não são pra qualquer um. Absolutamente, não. Porque eu tenho pavor de promessas. Porque eu amo poucos mas amo tão estrondosamente que me encontro no desespero de querer desamar. Porque quase ninguém me faz querer ficar. Porque eu tenho uma mania tão insuportável de querer ler os outros, que me esqueço que são pessoas e não livros. Porque eu odeio que tentem me ler, mas gosto que me leiam. Porque possivelmente, a única coisa que me aterroriza significativamente é querer por as minhas pessoas no colo e não poder. Porque eu tenho que parar com isso de achar que as pessoas são minhas ou que elas estão ligadas a mim por outras vidas e toda essa divagação que só faz sentido no meu cérebro. Porque eu realmente acho que a energia que eu emito é capaz de fazer as coisas acontecerem a milhares de km de distância e eu sei que esse é um achismo completamente estúpido. Porque as vezes acho que a minha intensidade é algum tipo de doença. Porque eu sempre tenho prazo de validade pra ser suficiente. Porque eu sou "fácil de amar mas difícil de continuar amando" - K.M. Porque eu odeio barulho. Porque eu amo, amo, amo e amo silêncio. Figurativa e literalmente. Porque eu me sinto absurdamente inspirada por tudo que eu vejo, leio e ouço. Porque eu gosto de sentir as músicas que escuto. Porque eu tenho novas milhares de músicas favoritas por não poder mais ouvir as velhas. Porque eu só uso cores iguais ou consequentemente gradativas mas gosto de pijamas coloridos quando estou em casa. Porque eu gosto de dançar mesmo que anos de prática não tenham me feito aprender. Porque eu amo um karaokê. Porque a vida é bonita aos meus olhos mesmo nos tempos feios, e eu vivo muitos tempos feios. Porque eu olho pro futuro e sei que a dor de se sentir como uma peça extra de um quebra cabeça já completo, simplesmente vai passar um dia. Porque ao mesmo tempo, eu acho que sou inegavelmente só uma pessoa triste que se esquece disso eventualmente. Porque eu gosto do cheiro dos outros em mim. Porque eu não consigo gostar de flores. Porque eu me apego a coisas ridiculamente simples. Porque eu não gosto de fazer nada sozinha mas amo estar em minha companhia. Porque eu gosto do céu e do mar com quem gosta da primeira paixonite da escola e isso é muito real. Porque eu sinto falta do ballet. Porque minha mãe é incrível e eu só consegui perceber isso vinte anos depois. Porque pensar me dói demais. Porque eu não sei perdoar. Porque eu passo constantemente por imensos processos de aceitação e entendimento, e aceito, e entendo, mas não é suficiente, nunca. Porque sou viciada em usar palavras que terminem com "ente" mas isso dá pra perceber, compreensivelmente. Porque as pessoas simplesmente não vão se lembrar de metade das coisas que eu jamais vou conseguir esquecer. Porque eu odeio ter uma boa memória. Porque eu sou alguém constituída por paradoxos e não sei lidar com isso. Porque os meus olhos de despedida estão cansados. Porque nada me afeta mas tudo me afeta. Porque eu quero ser alguém que muda o mundo mas tem dias que o mundo me pega pelas mãos e me olha com descrença, como se eu nunca fosse bastar. Porque tem dias que eu me vejo como uma criança que se perdeu e quer voltar pra casa mas não acha o caminho de volta. Como uma criança que não sabe se encontrar e senta no chão com seus braços pequenos ao redor de si e só chora. Porque as vezes o meu coração só quer fugir de mim. Porque eu obviamente sei as coisas certas a se fazer, mas nunca consigo fazer. Porque sinceramente, eu deveria crescer. Eu deveria. Deveria. Porque eu sei.

2 comentários:

Rayza Narcizo disse...

Não precisa crescer. Não deveria, não. Crescer é relativo. Eu sei. Você sabe. É escolha, mesmo que em alguns momentos a vida imponha. Mas, se você quiser crescer, eu te dou a mão e cresço junto. Eu, que morro de medo de te ver crescer. Porque eu tenho medo do mundo te machucar, mas ele o faz mesmo assim. E eu queria mais que tudo controlá-lo pra que nunca acontecesse, mas acontece. Porque eu não mando em nada. Definitivamente. Mas você sabe que se eu pudesse, faria. Porque você é incrível, sim. E eu te amo. Isso nem precisa de um porquê.

poemavivo disse...
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