segunda-feira, 7 de julho de 2014

My treasure


Ontem, eu tinha onze anos e era a garota mais admirável do bairro, sabe-se lá por que. E aí apareceu você. Do nada. Numa tarde de terça-feira, me olhando de cara feia e, tendo insolência o suficiente pra achar a minha tiara "esquisita". Te olhando confusa e rindo incrédula de como alguém podia não achar sensacional alguma coisa que eu usasse, me perguntei se você era mesmo de verdade. Eu nunca gosto de nada e todos sempre gostam de mim. De repente, eu gosto de você, tanto... Mas você não gosta. Me acha mimada, fútil, superficial, o tipo de garota que te enoja. Só quer entender o que tem de tão especial assim, por trás dessa casca que te incomoda. E aí, sem a menor explicação, você me conhece tão bem e eu não me escondo. Me alegro em te deixar saber. Você descobre que não tem nada de diferente ali, que na verdade, é tudo tão previsível e simples. Nunca vou compreender, mas isso te encanta e não preciso mais de nenhuma máscara. Não tem nada que eu precise ter medo de te escrever, porque arrisco dizer que ninguém nunca me conheceu melhor. Você, mais do que qualquer outro alguém, sabe como eu vivo presa sob a pressão de ser vista como a pessoa mais incrível do mundo, e no fundo, tão diferente da que de fato sou. Um dia, eu te disse que não tinha ninguém e você riu. Alegou que nunca conheceu alguém que tivesse mais amigos do que eu, esfregou meu celular na minha cara, buscando então, uma resposta cabível pra minha caixa de entrada ser lotada, e a de saída vazia. "As pessoas só não merecem o meu amor." Lembra? Te escrevi um texto sobre fins. Sobre como tudo e todos incontestavelmente sempre se vão, afirmando que amor não existia e enfatizando a diferença entre tantas pessoas pra falar e nenhuma pra agir, palavras são só palavras. Lembro que você não entendeu, disse que eu era dura demais comigo mesma e rude com os outros, finalizou contestando que achava genial demais tudo que eu escrevia, pra que um texto meu acabasse fincando tão pouco valor ao que são palavras. Nessa foto você tinha quinze anos, e eu havia acabado de ler meu discurso, na frente de um salão lotado de olhos desviados pro meu rosto iluminado no centro. Não dá pra lembrar de tudo que eu escrevi há quatro anos atrás, mas eu disse que te amava, e finalizei com um "palavras sempre vão ser, só palavras". Juro que lembro exatamente do seu sorriso quando veio me abraçar, da sua lágrima quente molhando meu ombro descoberto e do momento que você disse "eu entendi aquele primeiro texto, e eu, só tenho você." Lembro quando eu te disse que eu gostava de ficar sozinha, que nunca chorava e não tinha medo de nada. Lembro do quanto já chorei no seu colo, tantas vezes sem nenhum motivo específico, só pelo conforto de lavar a minha alma com alguém pra quem eu não precisava fingir. Lembro de quando olhei pra você e transbordei uma confissão por anos entalada dentro de mim: "Amiga. Eu tenho tanto medo. Tenho medo da solidão." E aí recebi o abraço que mais me acolhe nesse mundo. Quantas vezes você chorou por ver a merda que eu fazia com a minha vida, me sacudiu e tentou mudar o meu modo consternado de enxergar as coisas? Lembro do quanto você odiava quando eu falava que gostaria de morrer, e que não queria que demorasse. Acho engraçado a forma como hoje quero viver até 100 anos e o quanto me irrito quando ouço as pessoas dizerem minha mesma inconsequência. Sei que não preciso me desculpar por quem sou, sei que se há alguém que me aceita, esse alguém é você. Mas sei também, que indiscutivelmente você merecia alguém melhor, mesmo que não admita. Mais do que desculpas, perdão. Perdão pelas coisas que eu não digo, que eu não mostro, perdão pelo que você precisa e eu não sei como te dar, perdão por esse meu jeito complicado que você entende tão fácil. Você é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Evidentemente melhor que eu, não esquece disso. As suas atitudes, o seu coração maior que o mundo, sua capacidade de amar, sua maneira de dar valor a tudo que foi conquistado na sua vida, sem ficar reclamando de coisas tão pequenas, tudo isso anula qualquer coisa que só você seja capaz de enxergar de tão bom assim, em mim. Eu desejo, que você seja feliz e realize absolutamente todos os seus sonhos, que a sua vida seja ainda melhor da que você planeja pra si. Você foi a primeira pessoa que me fez feliz de verdade, depois que um mar infidável de tristezas me afogou. Eu não sei expressar o quanto é reconfortante saber que alguém como você vai estar comigo quando eu precisar, e só espero que você saiba que eu também irei. Acho que essa foi de longe uma das maiores coisas que já escrevi na minha vida, ironizando o meu lema de que as coisas são só o que são. Sinto sua falta, saudade de ter você aqui comigo, todos os dias, o tempo todo. Saudade de chegar na sala e te ver deitada no sofá, assim, sem nem bater no portão ou avisar que tava vindo pra cá, das risadas no meio do almoço que você sempre insistia em querer me obrigar a comer, saudade do seu colo e de pode me sentir a pessoa mais forte do universo ao me permitir ser fraca com você, da nossa conexão de outro mundo, nossas bandas e shows, dos esquemas e das mentiras tão bem contadas... De tanta glicose que já foi precisa pra gente se manter em pé, de todo mundo pra dizer que nós duas juntas não prestava, nunca prestou. O som da sua risada e seu sotaque nada brasiliense, sabe, é impossivel eu encontrar um outro alguém assim. Obrigada por ter acontecido na minha vida, por tantas vezes você ter se posto em segundo plano pra fazer tanto por mim, por ter abrido mão de coisas que eu sei que os outros não abririam, por ter aceitado todas as minhas crises, perdoado todos os meus erros e sempre ter me amado quando até eu mesma sabia que não merecia. Você nunca me deixou sozinha e nunca vai entender o tamanho da minha gratidão por tudo isso. É tudo sobre você. Sobre ter dito em um dia que queria ter um terço da minha coragem e, esbravejado no outro com a minha cisma de fazer tudo que me desse na telha "quero tanto que tu tenha juízo" "E eu quero ir pro Rio." o mundo me chamando de inconsequente e você dizendo que entao ia também, já que eu queria tanto ir. Assim, duas pirralhas sem um pingo se quer de noção, num avião pra outro estado sem ninguém saber, desembarcando em um aeroporto amarrotado de gente desconhecida e rindo como se fosse o último dia da vida. Você sempre diz que eu te ensinei a viver cada dia como se não tivesse nada após ele, e eu te digo que você simplesmente me ensinou a viver de novo, por que eu não sabia mais como fazer isso. Presta atenção, então, e não esquece nunca que eu te amo. Muito. E não preciso de esforço pra te dizer o quanto, pois sei que hoje você entende que mesmo que eu fosse capaz de quantificar, ainda assim palavras só seriam palavras. Palavras, apenas.

Só ouve a nossa música e vive a sua felicidade infinita, pois é a maior coisa que eu te desejo. E lembra de mim, não esquece que, em qualquer lugar do mundo eu estarei aqui, por você. O que a gente passou juntas NUNCA vai ser esquecido. 

Meu texto, meu sorriso de mentira, pode enganar a todos, não a ti.

Um comentário:

Larissa Bueno disse...

Muito lindo o texto. É incrível como você sabe escrever tão bem! Até chorei :(